Falar de Desporto é falar de enriquecimento de todas as vertentes intrínsecas ao desenvolvimento psico-motor. A motricidade e o aumento da capacidade cognitiva resultam do maior ou menor grau de inputs que lhe fornecemos.
Privar o individuo durante a sua fase de formação de um destes factores é limitar o seu enriquecimento sensorial e cognitivo.
A máxima secular latina “Mens Sana in Corpore Sano” tem sido aplicada desde longa data para exprimir a necessidade de conjugar o desenvolvimento intelectual com um corpo saudável. E o corpo saudável passava pela actividade física e a destreza para os “Jogos”.
A escola é o principal local de enriquecimento de saberes e experiências inter-relacionais. A “politica” de sobrecarga horária com actividades multidisciplinares tem inibido a relação dos indivíduos com a experiência física do confronto das suas capacidades individuais com os seus pares e a limitação das defesas orgânicas contra as “agressões” oriundas das mais variadas fontes, sejam elas de ordem natural (climática ou geográfica), psicológica (desenvolvimento da personalidade e do carácter) ou física.
E é aqui que o Desporto tem o seu espaço.
O desporto contribui para o desenvolvimento da personalidade e das aptidões físicas. "É um foco de ensino da responsabilidade, subordinação e modela os níveis de aspiração, fomentando esforço e persistência" (Roberts, 1986)
Quando se priva os jovens da possibilidade de se compararem e de exprimir as suas aptidões físicas e a sua capacidade de superação, está-se a limitar o seu crescimento saudável e equilibrado. Mesmo em termos do desenvolvimento intelectual, o metabolismo é acelerado pela actividade física contribuindo para o melhoramento das reacções químicas ao nível das células e consequentemente, o aumento da actividade enzimática, melhorando desta forma todo o processo de crescimento e reprodução das células, adequando respostas aos seus ambientes.
É desta forma que se pretende sensibilizar os encarregados de educação para a necessidade de criar hábitos desportivos desde cedo e de uma forma continuada.
Os pais devem ter consciência de que as crianças e os jovens não necessitam começar precocemente o treino e a competição regular de uma única modalidade. Pelo contrário, o início da prática desportiva generalizada de diferentes desportos ou com diferentes experiências sensório-motoras são aspectos positivos, no sentido de que a preparação desportiva do jovem deve ser um processo permanente de longo prazo. Uma formação desportiva iniciada nos primeiros níveis de escolaridade, partilhada por professores e treinadores devidamente habilitados, e tendo como o principal objectivo o desenvolvimento global e harmonioso da criança e do jovem, o respeito à individualidade biológica, o conhecimento das particularidades de cada modalidade desportiva, constituem-se em pressupostos imprescindíveis não apenas para o desenvolvimento ideal como também para a criação de condições óptimas para o rendimento de alto nível e para construção de valores éticos e filosóficos importantes para o desenvolvimento de sua identidade.
Todas estas considerações devem ser tidas em conta quando os pais decidem privar os seus educandos da actividade física face aos resultados escolares. A disciplina, o rigor, a organização e a capacidade de superação que o desporto proporciona são uma mais-valia formativa que os pais devem ter sempre presente.
É minha opinião (e não só) que este tipo de “castigo” penaliza ainda mais os resultados escolares e não contribui para o seu saudável crescimento.