Um amigo, meu ex-treinador e dos mais qualificados professor de Educação Física Nacional enviou-me esta carta aberta que subscrevo e transmito por este meio:
"Sou Professor há 36 anos. Sou Professor daquela coisa que alguns consideram mesquinha, vil, pecaminosa, secundária, subalterna, que se denomina CORPO. Seja pela via do Desporto de baixa, média e alta competição seja por via da Educação Física escolar tenho dedicado a minha vida a ajudar as crianças e os jovens do meu país a crescerem, a se tornarem homens e mulheres plenamente desenvolvidos, com carácter, com força (física e mental), com coragem, com valores que os ajudem a enfrentar as vicissitudes da vida de cabeça levantada e olhos límpidos.
Viver é um risco e as aulas de Educação Física e Desportiva são meios fundamentais para desenvolver nos jovens o gosto do risco, o prazer da aventura, a adesão a novos desafios. Não está aqui em causa somente a realização do corpo na sua dimensão física mas também, com carácter indissociável, a realização do corpo como entidade ética, estética, e axiológica.
Por isso, não aceito que os juízes do Supremo Tribunal de Justiça tenham condenado um colega a pagar mais de 75.000 euros de indemnização a uma aluna que se magoou no decurso de uma aula de Educação Física.
Com esta atitude, os juízes deram uma machadada fortíssima no prestígio, eficiência e valorização social do Desporto e Educação Física (DEF) como fautores de Educação.
Com todos os cuidados necessários que é necessário ter, a aula de Desporto e Educação Física comporta um risco, risco esse que é a natural consequência de procurar "rendimento" formativo, educativo, pela via do corpo em movimento para lá dos limites do habitual. Numa época marcada pela hipocinésia como maleita civilizacional, a deliberação dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça não condenou um acto falhado de um Professor (todos os tivemos, temos e teremos), mas sim constituiu-se como um libelo contra os Professores de Educação Física e Desportiva que, com o humano receio de falhar, vão reduzir a dimensão formativa plural e assim contribuir para a expansão da hipocinésia, da morbilidade e da redução da qualidade de vida de todos.
Só espero que todos os meus colegas assumam, com coragem, que o risco fez e continuará a fazer parte da nossa maravilhosa profissão."
José Augusto Rodrigues dos Santos
Professor Associado com Agregação
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
terça-feira, dezembro 14, 2010
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4 comentários:
Caro Professor José Augusto:
(In)felizmente já temos as WII da nintendo, que provavelmente irão substituir o desporto como nós o conhecemos...
Sou remador há 18 anos,e já sofri algumas lesões, algumas devidas de acidentes enquanto remava... Ai dos meus pais se me tentassem demover da prática da modalidade...
Grande abraço, de atleta para atleta...
Tambem sou remador á muitos anos mas e pai, e os meus filhos já tiveram vários professores de educação fisica (bons e maus).
Existem actividades como ginastica acrobática (e outras) que por vezes são executadas sem os minimos principios de segurança.
Conheço varios casos de lesões graves em alunos pela falta de profissionalimos dos professores de educação fisica ou de treinadores sem a formação necessária.
Nem todos os profissionais são iguais, mas todos em todas as profissões os maus devem ser responsabilizados pelas consequências das suas actividades (...).
O corporativismo fica mal!!!!
Há de tudo em todo o lado, bons e maus profissionais... mas quem é responsabilizado pela má educação dos alunos, pela falta de respeito para com os professores e que muitas vezes, isso sim,leva a problemas graves...?
Quem indemniza o professor pela falta de educação dos alunos para com ele?Os pais?
Quem já não assistiu a um engraçadinho qualquer a desrespeitar uma ordem dum professor de EF e atirar-se para cima dum trampolim, nas costas dele?
Infelizmente vivemos na geração playstation e wii sports.
David Ricardo Cardoso
Caros camaradas desportivos, sou remadora, e iniciei a minha actividade física muito nova, com cinco anos os meus pais passaram-me os valores desportivos e muito cedo começou a fazer parte do meu ritmo diário a actividade fisica, sobre a forma de muitos desporto, desde o judo, nataçao, ginastica, haterofilia, remo(dois duas quais federados) tive bons treinadores, bons professores e excelentes mestres, no entanto, mesmo na excelência profissional, existem acidentes. A vida infelizmete está cheia de pequenos/grandes acidentes que nos cortam sonhos e dificultam a nossa jornada.
Como atleta, mãe, e profissional lamento tais acontecimentos, mas sei que são inerentes á condição humana, ERRAR, lamento pela aluna lesionada e pelo professor fortemente penalizado. Que situações destas não retirem aos professores de EF, os seus valores formativos.
Um abraço
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